9 de mar. de 2011

Sobre o Carnaval


De tudo que eu não sei, talvez a coisa que eu mais não saiba seja como se organizam as escolas de samba. não sei, porque nunca soube; não sei, porque nunca quis saber. Não sei, sobretudo, porque se as escolas são de samba, se samba é um gênero de música, e se música não é um ambiente propício à competição, a competição da qual o carnaval se fez definitivamente refém definitivamente não me interessa.

À medida que fui me aproximando do samba – despido que sou de conexões íntimas com qualquer escola – me transformei num espectador café-com-leite. Não que eu não me deixe envolver, longe disso. Torço até demais, mas por quase todas as escolas. Tenho ainda, em algum cantinho, uma simpatia maior pelo Salgueiro, a tal escola apenas diferente, mas acabo enxergando em quase todas as escolas uma razão para que eu não as queira em outro lugar que não seja ali, no maior desfile.

Em 31 anos de vida, me arrepio com memórias que não são minhas de desfiles que não vi, ainda que imagine lindos a julgar pelos sambas que o conduziram. “Onde o Brasil Aprendeu a Liberdade”, da Vila, “Sertões” da Em Cima da Hora, “Domingo” da Ilha. Lembranças que de tanto querer, às vezes pareço ter. Dos desfiles que testemunhei, posso me ver, como se fosse um espectador de mim mesmo, embevecido diante da ousadia do Cristo coberto de Joãosinho Trinta em “Ratos e Urubus...”, da Beija-Flor; cantando alto o apoteótico “Sonhar não Custa Nada...” da ultramoderna Mocidade; molhado de chuva, suor e lágrimas sobre o carro da Lapa em “O Rio de Janeiro Continua Sendo...”, daquele Salgueiro que me balança um pouquinho mais que as outras.

Nenhum dos antológicos enredos que citei acima foi campeão.

E é por isso, e só por isso, que eu não me comovo, não me enojo, não me surpreendo, não me irrito, nem sequer me importo com os resultados estranhos, com as notas suspeitas, com a sensação coletiva de injustiça.

Não me interessa se é um samba-baba pra um enredo-vaselina de um desfile-chapa-branca, ninguém vai lembrar. É um campeonato sem registro, sem interesse, sem reverb e sem delay.

De tudo isso, só me interessa registrar que, na democracia em que vivo, eu sou meu próprio súdito. Eu sou meu próprio Rei.

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