27 de fev. de 2011

Sobre os rótulos

Artista.

Empresária.

Duas vezes vereadora do Rio.

Qualquer uma das “qualidades” acima serviria para descrever o sujeito (ou a sujeita) deste texto que vem a seguir. Além do imortal epíteto “mãe loira do funk”.

É claro que Verônica Costa não é uma unanimidade: É uma artista com modestas contribuições estéticas à música brasileira; É uma empresária que reproduz o modelo cruel das equipes de som que pagam misérias aos artistas apesar dos rios de dinheiro que ganham nos bailes que promovem; É uma daquelas figuras políticas que só existem graças à esquizofrênica relação entre o poder e a notoriedade, tendo retribuído os votos que recebeu com atuações pífias em seus dois mandatos, coroados por infames recordes de ausência no plenário da câmara.

Como se não bastasse isso tudo, Verônica ainda arregimentou a família para torturar seu marido, tornando-se, enfim, praticamente uma unanimidade. As aspas ao redor de “qualidades” não são um acaso.

Isso posto, posso chegar, enfim, ao ponto que me motivou a escrever sobre Verônica Costa, pessoa que não me interessaria muito em sua faceta artística, empresarial, política ou torturadora.

Em todos os telejornais que vi falarem sobre o caso de Verônica, o jornalista começou a matéria dizendo “a funkeira Verônica Costa”. Não acredito, como já demonstrei acima, que Verônica venha se saindo muito bem como artista, empresária ou política – parece, a julgar pelo estado físico do marido, ser uma excelente torturadora, talvez esteja aí sua vocação – mas ainda assim “funkeira” não é a melhor maneira de descrever Verônica.

Chamá-la de “funkeira” serve ao único propósito de fazer com que o telespectador aproveite tudo o que ele já tem em mente em relação ao funk para então julgá-la. Não preciso dizer que o papel fundamental da imprensa é não nos deixar cair na tentação sanguinolenta do julgamento, em benefício da busca legítima da isenção.

A “funkeira” de hoje é o “roqueiro” de vinte anos atrás e o “sambista” da primeira metade do século. Não é mera coincidência que os três gêneros musicais sejam originalmente de guetos. Taxar qualquer artista pelo gênero que ele representa é fazer um juízo moral daquele artista que esteja de acordo com todos os preconceitos que já há em relação àquele gênero.

É, mais uma vez, a imprensa prestando o desserviço da perpetuação dos paradigmas, ferramenta indispensável à superficialidade de que precisam os microtelejornais que se atulham entre os espaços que sobram dos anúncios.

Abaixo a reflexão.