20 de jul. de 2009
Sobre o nono ano de gestação
Filho
Quando nascer meu filho,
Seu brilho será
De um intransitório
Transe histórico, gatilho.
Empecilho? Qual o quê;
Descarrilo do avesso.
Hei de vê-lo arrancar do mamilo
Aquilo que lhe servirá de lenha e trilho.
E a assim, além de trilho e lenha,
Pra mim, será, o filho, contrassenha.
7 de jul. de 2009
6 de jul. de 2009
Sobre tatuagens esferográficas
Apresento-lhes um pequeno conto de minha autoria:
Um dia, uma gestante tentou receber atendimento no maior hospital de sua cidade.
O caso era grave e exigia internação imediata.
Um médico, canudado (um viva aos ubaldianismos autorreferentes nossos de cada dia), orientou a gestante a procurar uma maternidade, fazendo-lhe, inclusive, o inestimável favor de escrever-lhe no antebraço o nome da maternidade e as linhas de ônibus que a levariam até lá.
A gestante entrou no desconfortável ônibus e, ao chegar em seu destino, constatou que seu filho havia morrido. Tremenda ironia linguística ter morrido seu filho justo no caminho entre o hospital e a maternidade, pois a maternidade - a que se constrói com sonhos, não com tijolos - o próprio caminho lhe havia arrancado, ora sendo a gestante forçada a tomar outro caminho, de volta ao hospital, uma vez que maternidade de sonhos já não mais havia e de tijolos não mais carecia.
Quando questionado sobre o caso, o prefeito da cidade respondeu, categoricamente, o que temos que fazer é... punir.
Claro, nada mais havia a fazer. Nesta cidade todos os cidadãos tinham acesso a tudo que era público. Havia fartura de litros de leites, leitos e letras, menos de lutos.
Sobretudo ali, onde a gestante solicitara atendimento de emergência, havia abundância de vagas, obstetras, ambulâncias e maternidades. Afinal, era o maior hospital da cidade.
Logo, concluiu-se que a morte da maternidade da gestante só podia ser resultado de uma peça pregada pelo espirituoso médico a se valer do raro artigo da ignorância alheia. Pobre médico, só quis testar sua caneta nova.
Gostaram do conto? É claro que é ficcional...
Não pela "cidade-pública", inspirada em algumas que conheci um pouco mais a norte.
Mas só mesmo a literatura fantástica para imaginar uma trama como essa.
A cobra não morde uma mulher gestante
Porque respeita seu estado interessante
(Nelson Cavaquinho & Guilherme de Brito)
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