20 de abr. de 2009

Sobre o que é responsabilidade


Como se não bastasse responsabilizar o usuário pelo tráfico, o tubarão pelas pernas que abocanha e o pobre por continuar sendo pobre, ontem, saindo do Maracanã - um tanto cabisbaixo, confesso, conquanto o destino do mundo ainda esteja por se decidir - fui testemunha de uma das mais espetaculares distorções de que se tem registro.


Sou Botafogo, sempre fui, sempre serei e, por isso mesmo, meus sentimentos arquibáldicos são, digamos assim, calejados. Sofro sim, choro também, mas meu mau humor dura coisa de horas, não mais que isso. Mas essa cena, protagonizada por um pai, um filho e um policial militar (oxalá fosse um espírito santo), não me pareceu repulsiva por causa de minha condição de derrotado ou, muito menos, de aspirante a pai. Talvez de humano.

Às portas do Maracanã (traseiras, é claro, é a parte que nos cabe neste latifúndio), durante a descida do rebanho, abriu-se um clarão. Típico de saída melancólica, muito provavelmente um arrufo entre correligionários alvinegros sofrendo de cabeçaquentite aguda - não seria exatamente uma surpresa, entretanto, se a balbúrdia fosse obra da tropa inimiga avançada, não satisfeita com a vitória, sedenta por sangue.

Pra mim, nada daquilo era novo. Depois de vinte anos de assiduidade, sei os atalhos e os procedimentos. Mas, um pouco adiante, lá estavam: o filho, no recolher das pálpeberas do arregalar dos olhos, assustado; o pai, abraçando o filho muito mais na intenção de parecer proteger do que de fato proteger (até porque o perigo ia longe e já estava um tanto maior dentro do menino do que à sua volta); e o espírito-de-porco-fardado, que, em um lampejo de suprema covardia, vociferou, dedo em riste, contra o pai, acusando-o de ser... irresponsável.

É, há de ser irresponsável o pai que leva seu filho para um evento cuja censura é livre, cujo fim é o esporte com tudo de bom que a palavra traz consigo, cuja intenção é fazer com que se aproveite, em família, as suadas horas de folga do abençoado domingo nosso de cada semana.

Em contrapartida, temos, na imagem desse bucéfalo da segurança pública, o exemplo-mor da responsabilidade, inoperante que é nas questões que o deveriam interessar (uma vez que interessam a quem lhe paga o salário, grupo do qual, curiosamente, fazemos parte eu, você, o pai e o filho), a dar sermões com ares de supernanny, não se importando que suas palavras, expressões e gestos, sirvam ao despróposito de aumentar a tensão de todos a despeito do arrefecimento da confusão original.

Aproveitando o ensejo, catuco novamente uma feridinha institucional: pra que e a quem serve uma polícia MILITAR?

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