3 de jul. de 2013

Sobre a Sociossismologia Empírica Aplicada



E se formos nós o terremoto?

Os governos, é claro, são as placas tectônicas. Às voltas com sua própria sensação de estabilidade, não estão especialmente preocupados em acompanhar a velocidade das vontades e das forças alheias a si. Às vezes se jogam uns de encontro a outros e eventualmente tremem sem saber por que.

O foco sísmico é feito dos movimentos sociais organizados. Têm a volúpia do ruído - jamais se permitem silenciar. Mas a repercussão do que dizem é uma incógnita: grande parte das vezes, seu desejo de mexer com as placas dispersa nos interstícios repressivos e burocráticos das próprias placas que, assim, os contêm com pouco esforço.

Os militaristas, moralistas e fascistóides, a pé, de carro ou caminhão, são uma falha, como a de Santo André. Prometem rachar a Califórnia mas bradam muito mais do que mordem. Ademais, seu ímpeto sanguinolento é mais hormonal do que coordenado.

O epicentro certamente é civil, desorganizado e, embora incomodado, esteve ocupado demais recentemente com seus afazeres superficiais para dar atenção aos atritos escondidos nas vergonhas da crosta. De repente foi sacudido.

E as instituições são tudo o que fora construído sobre o solo. Quão mais firmes forem, mais firme resistem às vicissitudes das placas. Não importa se rachem, fissurem ou quebrem as rochas dos governos, as instituições bem construídas não se abalam. Por outro lado, mesmo onde as placas deitam eternamente em berço esplêndido é possível caírem rebocos de viadutos em cabeças inocentes.

Mas a beleza está unicamente no paradoxo de que só se ouvem os movimentos íntimos da Terra quando as súplicas fogem às entranhas e se propagam em difusas ondas de choque. No decorrer do caminho, aquele grito uniforme, concentrado, proposital e propositivo vai ficando mais alto, mais abrangente e menos inteligível - e é quando a intenção de reacomodar placas parece detalhe frente à capacidade destrutiva do sismo.

E só assim, com recorrentes tremores de legitimidade duvidosa, vamos destruir e reconstruir uma dúzia de vezes nossos prédios até que se perceba que precisam ser melhores e mais estáveis para que sobrevivam às egolatrias narcisistas das pedras.


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