16 de nov. de 2010

Sobre o natal



Se meu esporte predileto é argumentar, discutir sobre religião é a copa do mundo do meu esporte. Em qualquer outra inútil competição retórica, há paradigmas clamando por desconstrução; aqui há dogmas. Inatingíveis e incontestáveis que são, os dogmas são um convite irrecusável a qualquer viciado por contradições como eu.


Este pleito que se trava entre mim e os dogmas ganha ares épicos quando meu fiel interlocutor - fiel por ter fé em um Deus qualquer, meus interlocutores dificilmente têm fé em mim - toma conhecimento do desapego íntimo que nutri toda a vida por qualquer representação institucional religiosa - ainda que, nas curvas da "vida madura", meu ceticismo nem sempre resista à minha sensibilidade (ou à minha insegurança). Entenda: não comprei nenhum dos rostos que se me foram apresentados como sendo de Deus, mas creio em Algo, assim mesmo, com maiúscula, só por birra.

Pois bem, se sob o manto inexpugnável do meu Santo Algo não estão Pai, Davi, Oxalá, Krishna, Maomé, Filho ou Espírito Santo, o que dizer de um velho, barrigudo, que usa roupas de pele - aparentemente animal - apesar do calor e esconde o rosto atrás de uma barba branca - quase sempre falsa - como se fosse um foragido? O que dizer de pinheiros canadenses de plástico cobertos de neve sintética nas portarias dos prédios de Bangu?

O natal é triste e ridículo. E sempre foi.


(Esta seria a íntegra de um texto meu sobre o natal há alguns anos. Agora cabe um epílogo:)


...ridículo. E sempre foi.

Mas a decoração de natal da minha casa está linda. Meu filho vai adorar quando acordar.


Sabe, às vezes é bom envelhecer. Envelhecer e perceber que, afinal, o natal me interessa, pelo simples fato de que promove a liturgia rara dos encontros.

Um comentário:

Flávio Sereno Cardoso disse...

Muito legal. A roupa de frio também me incomoda faz tempo hehe ainda mais que nasci em Cataguases/MG.