28 de ago. de 2010

Sobre razões e propósitos



Qual a razão de ser de um telefone? Qual o propósito de um rádio?

Um telefone serve pra que duas pessoas se falem à distância; um rádio tem o propósito de permitir que pessoas ouçam o que outras pessoas dizem.

Telefones e rádios param de funcionar, ou, ainda que continuem funcionando, são substituídos por outros telefones e rádios mais modernos, e, então, o propósito e a razão de ambos será acumular poeira.

Até que alguém, muitos anos depois, acha esse telefone e esse rádio que, apesar de ultrapassados, são peças que remetem a uma época e despertam a memória afetiva de quem os viu serem, respectivamente, telefone e rádio.

Serão vendidos como relíquias, mais caros do que costumavam custar quando eram telefone e rádio.

Como se pode observar, assim como telefones e rádios, quase tudo que há no mundo tem uma única razão e um único propósito de ser. Outras razões e outros propósitos são possíveis, mas, em geral, chegam para substituir as razões e propósitos que os precederam.

Digo quase tudo porque no último ano pude constatar que a razão e o propósito da vida de um pai é maior do que a razão e o propósito da vida de um homem. Sempre tive múltiplas razões e múltiplos propósitos pra viver e, desde o nascimento do meu filho, todas elas passaram a ser ele. É o único estranho e extremo caso em que uma razão-propósito é retroativa. Tudo pelo que passei nos vinte e nove anos em que estive alheio à paternidade parece ter a razão-propósito de me trazer até aqui, pai, com uma única razão-propósito de viver.

Tudo que digo, tudo que não digo, o que já escrevi neste blog e, fundamentalmente, o que não escrevi durante esse primeiro ano da vida de meu filho, têm a razão e o propósito de fazê-lo feliz.

Mas, como esse blog não quer ser vendido mais caro como relíquia... ressucitá-lo-ei.



Um comentário:

Ana Carolina disse...

Que bom q vc ressuscitou o seu blog, João!

Suas idéias são boas de ler.